Total de visualizações de página

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Dia do Orgulho Ateu

É um costume antigo escolhermos um dia do ano para celebrar aquilo que achamos importante. Além das datas de eventos históricos relevantes, existe um extenso calendário de dias com motivos religiosos, além de datas cívicas e comerciais para lembrar pessoas, profissões, atividades e idéias. Como resultado, todos os dias do calendário têm coisas a serem comemoradas, com graus de mérito bastante variáveis.
Reconhecendo esse fato, grupos minoritários há muito vêm lançando datas para marcar sua luta pela igualdade e pelo respeito, e contra o preconceito e a discriminação, como é o caso do dia da Consciência Negra e o dia do Orgulho Gay. À primeira vista, a palavra orgulho pode parecer fora de contexto, mas ela é uma tradição sólida entre as minorias, ao menos desde que se começou usar a expressão black pride (orgulho negro) nos Estados Unidos, há mais de quarenta anos. A ela se associou um dos slogans fortes da época, "I'm black and I'm proud" (sou negro e tenho orgulho disso), eternizada em 1968 pela homônima canção de James Brown.
Nesse contexto, falar em orgulho não é uma maneira de se dizer superior, apenas uma maneira de afirmar que não somos inferiores. Falar em orgulho é importante quando existe uma idéia socialmente difundida de que a sua identidade é intrinsecamente negativa e deve ser motivo de vergonha. Esse é o caso dos negros, é o caso dos homossexuais, e também o caso dos ateus. Falar em "orgulho ateu" é dizer que temos orgulho de sermos quem somos. É dizer que nosso ateísmo é uma parte integrante de nossas posições perante o mundo, e que é uma vergonha que muitos de nós se sintam obrigados a esconder sua identidade para serem plenamente aceitos em seu círculo familiar, social ou profissional. É dizer que os ateus também são cidadãos e merecem, sim, respeito.
Cabe lembrar aqui uma importante distinção entre pessoas e idéias. Muitos ateus entendem que algumas crenças religiosas, ou todas elas, não merecem respeito. E isso é um direito deles. Há idéias que simplesmente não são respeitáveis, como a de que negros são inferiores, ou a de que a Terra é plana -- embora possamos, é claro, discordar de quais idéias exatamente não são respeitáveis. Da mesma maneira, os religiosos podem crer que o ateísmo não é uma posição respeitável, no sentido de que ela não se sustenta, não corresponde à verdade ou coisa similar. Mas isso é coisa muito diversa de dizer que os ateus não merecem respeito, o que é tão errado quanto dizer que os cristãos não merecem respeito.
Já existe uma comunidade no Orkut dedicada ao dia do orgulho ateu, onde se votou por estabelecer o dia do ateu em 12 de fevereiro, aniversário de nascimento de Charles Darwin, o eminente biólogo que deu uma das mais significativas contribuições isoladas ao conhecimento humano, que ao mesmo tempo o impeliu do cristianismo ao agnosticismo. É claro que essa escolha pode ser criticada, e há várias outras opções. Mas isso não importa. Em última análise, a escolha de um dia é perfeitamente arbitrária e qualquer parte do calendário é tão boa quanto às demais.
O importante é trazer o assunto à discussão, na sociedade e na imprensa. É termos um dia para refletirmos e fazermos refletir, para falarmos com amigos e lhes enviarmos mensagens de e-mail, para sair do armário e parar de sentir vergonha, para lembrar que você não está sozinho e que existem pessoas como você lutando por um mundo melhor.
Ações de calendário
Assim como o dia do orgulho ateu, há outras propostas ligadas ao calendário para as pessoas que não têm religião. Judeus e muçulmanos, por exemplo, têm seu próprio calendário, e não é difícil entender por que é difícil de aceitar um calendário que celebra a crença de que o universo surgiu magicamente há menos de dez mil anos, como é o caso da cronologia judaica. Esse é um erro de um milhão de vezes, semelhante a imaginar que a distância daqui ao Sol é de 150 quilômetros, ao invés de 150 milhões de quilômetros. Mas isso não os impede de continuar celebrando, e a mídia de continuar cobrindo o fato regularmente sem qualquer menção crítica.
Por que então não deveríamos criar o nosso próprio calendário? Essa é a idéia do Universal Atheist Calendar, que propõe como zero o início real do universo como o conhecemos, há cerca de 13 bilhões de anos. Existem outras propostas como a Darwin Era, que se baseia no ano de publicação da primeira edição da Origem das Espécies, em 1859. Há muitas outras alternativas, é claro.
Seja qual for o calendário, ele pode comportar as mais diferentes celebrações seculares. Uma das possibilidades é o Newtal, a comemoração do nascimento de Newton, no dia 25 de dezembro. Podemos continuar usando a árvore, mas pendurando maçãs para nos lembrarem da lenda sobre a formulação da lei da gravitação universal. E deixar uma cópia da sua obra-prima, Philosophiae Naturalis Principia Mathematica, aberta logo abaixo, para nos lembrar de grandes conquistas intelectuais da humanidade. Já existe até uma comunidade do orkut dedicada à data, que surgiu originalmente em países de língua inglesa como Newtonmas.

Fonte: http://www.atea.org.br

Nenhum comentário:

Postar um comentário