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terça-feira, 7 de junho de 2011

Como me tornei ateia







Não costumo fazer vídeo por puro preconceito, mas resolvi revelar de uma forma que considero mais fácil de como me tornei ateia.



É uma pergunta que, a princípio parece ser simples de ser respondida justamente pela racionalidade de compreender o que parece ser tão natural, mas, mesmo até chegar ao ateísmo, o processo pelo qual passei foi demasiadamente interessante, haja vista a curiosidade que em mim sempre aguçou pelas coisas inexplicáveis.




Posso garantir que esse processo não seu deu de forma tão rápida e tão natural assim, pois, primeiro foi dogmatizada em uma religião, fui ensinada desde pequena a temer e obedecer ao desconhecido, a clamar e acreditar num ente que, aparentemente era bondoso, porém vingativo ao mesmo tempo.


Inicialmente, puseram-me para cumprir o ritual comum a grande maioria das famílias, ou seja, frequentar a igreja católica e participar do catecismo. Como sempre fui questionadora, aos 7 anos, já me sentia incomodada em ouvir um padre que sempre narrava a nova das oito com todos os seus detalhes. Por sorte, sempre tive uma mãe altamente compreensiva e que, sobretudo, apoiava-me em minhas decisões, mesmo criança, ela acreditava que deveria me dar total liberdade em minhas escolhas. Em vista disso, desisti do catecismo.



Busquei deus então, numa igreja evangélica, mais precisamente na Igreja Metodista, a qual durante certo tempo tive algumas alegrias, pois fazia inúmeras atividades criativas, como, cantar em coral, ajudar os mais necessitados, participar de gincanas, etc., mas, não demorou muito e algo começou a me incomodar. As pregações dos pastores me deixavam inquieta e os ensinamentos da bíblia me aborreciam, pois não conseguia entender nada. Nessa época, inclusive, foi quando conheci verdadeiramente a bíblia, ou seja, estudávamos todos os dias.




Isso, por volta dos 11 anos, eu já não suportava a pressão e, tinha grandes dificuldades em orar, rezar, falar com deus, qualquer coisa que o valha, sendo assim, elaborei um pequeno questionário com mais ou menos 50 perguntas e pedi uma audiência com o pastor para que o mesmo pudesse esclarecer minhas dúvidas. Para minha surpresa, ele aceitou o desafio, mas não conseguia responder nada e mandou chamar minha mãe dizendo que eu tinha algum problema psicológico e que ela deveria me conduzir algum especialista para resolvesse meu “problema”. Que problema? Eu apenas fiz algumas perguntas.


Nessa época, embora eu participasse da igreja evangélica, minha mãe, opostamente, fazia parte da umbanda. Em vista disso, ao invés dela me levar ao psicólogo, ela me levou ao centro de umbanda. Acho que foi mais ou menos nessa ocasião que percebi que adorava a psicologia, pois ao mesmo tempo em que eu devorava livros de religião eu lia várias obras dessa ciência que estuda comportamentos.



De toda sorte, fui encaminhada para o centro de umbanda, onde permaneci por muito tempo, mas me sentia inquieta novamente, pois as manifestações das pessoas com “entidades” me faziam rir, e eu me esforçava para não ter acessos de gargalhadas.



Por outro lado, em meu dia-a-dia, sempre brigava, questionava a todos que conhecia sobre deus e todas as coisas que eu lia em livros e que me diziam para acreditar. Não conseguia aceitar o que era me imposto. Na maioria das vezes, sentia-me um peixe fora d’água, sempre uma estranha no meio da multidão. Não conhecia o ateísmo, nem tampouco pessoas que questionavam sobre deus.



Depois de muitos anos na umbanda, resolvi abandonar também, passei anos sem religião, e a cada dia, esforçava-me para acreditar em deus, em agradecer, mas sempre me sentia desconfortável, angustiada, triste, nunca conseguia rezar, não conseguia conversar com deus, a não ser que fosse para xingar, ou seja, a aflição me consumia a todo tempo. Vivia com um peso em meu coração, como se estivesse carregando um saco de tijolos bem pesados nas minhas costas. Eu tinha que me livrar disso, mas não sabia como.



Após muitos anos, resolvi tentar mais uma vez a igreja evangélica, novamente por influência de minha mãe que, a essa altura, já havia abandonada o espiritismo e ingressado na Igreja Universal. No começo, confesso que eu ia somente porque não tinha nada o que fazer, mas, continuava me segurando para não rir com esse novo teatro que agora eu fazia parte. Depois de algum tempo, passei a frequentar mais para conversar com um pastor em particular, já que o mesmo se configurava num homem altamente atraente.



Pois bem, mais ou menos nessa época eu já arriscava a dizer perto de minha mãe que achava que deus não existia, que não havia alma, diabo, ou qualquer coisa parecida. Naturalmente, minha mãe ficou perplexa, mas, acabou entendendo, pois ela mesma também não aceitava muitos dogmas e regras que lhe eram impostos.



A essa altura eu já conhecia o ateísmo, mas ainda tinha receio de abandonar tudo àquilo que eu tentava acreditar temendo ser castigada pelo divino.



A certeza e a vontade de abandonar essa minha falsa fé, pois na verdade, sabia que nunca tinha conseguido ter fé de verdade, se deu numa conversa que eu tive com o pastor já mencionado. Eu o indaguei buscando entender o porquê de eu ser uma pessoa boa, cumpridora dos meus deveres, ser ética, ter moral, ter respeito pelas pessoas, ser solidária e, mesmo assim, coisas ruins aconteciam comigo. Ele com uma calma extraordinária me disse que isso não tinha importância para deus, que ser ético, responsável, ter moral, respeito, ser solidário, não significava nada para deus, mas sim a submissão que deveria ter a ele, especialmente desfazendo-me dos meus bens para ajudar a “obra” dele.



Acrescentou ainda afirmando que eu poderia matar, roubar e fazer qualquer tipo de atrocidade, mas se eu me arrependesse e fosse submissa a deus eu teria suas bênçãos. Eu fiquei boquiaberta com tal alegação. Aquilo se desfazia como vento em minhas ideias, já que eu achava que meus princípios eram baseados nos ensinamentos de deus.



Nesse momento disse claramente ao pastor que se nada disso tinha valor, então a partir daquele momento eu não acreditaria mais em deus, já que para mim, isso tinha valor. E foi nessa ocasião que entrei de cabeça no ateísmo, buscando ler, conhecer mais, aprofundar-me em ciências, em outras áreas que pudessem me trazer um pouco mais de paz.



A partir daí encontrei a paz desejada. Foi assim que consegui me livrar de toda angústia que vivia, de toda aflição, de todo medo de um ser em que eu me esforçava a acreditar. O engraçado é que quando disse a minha mãe que tinha me tornado ateia, ela não estranhou, no fundo, ela sabia que eu sempre tinha sido.



Por certo, o alívio que senti e sinto por não acreditar na existência de deus e de tudo que o cerca foi demasiadamente expressivo. Obtive uma tranquilidade, uma paz, uma coragem maior para enfrentar meus problemas diários, enfim, passei a ter uma visão mais ampla e mais serena da vida como um todo.



Portanto, é possível que eu tenha demorado mais tempo do que outras pessoas para me tornar ateia, mas posso assegurar que o processo pelo qual passei até chegar ao ateísmo foi extremamente gratificante e, especialmente quando se obtém êxito de uma busca que não parecia ter fim.